Pois sou um bom cozinheiro – Boca no Mundo
Home » Vida » Livro » Pois sou um bom cozinheiro
22 de outubro de 2013

Pois sou um bom cozinheiro

Nos garfos do poeta, a feijoada era eterna enquanto durasse. Quando torresmos não mais havia para contar a história, Vinicius se entregava aos doces brasileiros de fruta, ou flertava com úmidos papos de anjo.

Um dia esqueceu os óculos dentro da geladeira, prova irrefutável de assaltos frequentes que praticava. E tem coisa melhor?

“Não comerei da alface as verdes pétalas”, escreveu, avesso a dietas e ditadores.

O poeta engolia a vida sem restrições, e a paixão pelo Brasil passava pelas panelas. Fosse ele cozinheiro ou apenas um guloso com mania de polvilhar açúcar em quitutes salgados, como pastéis de carne. Paladar exigente.

Agora me digam se é possível a um ser humano de alma imensa e generosa, poeta e bom vivant, não ter a comida entre seus amores e prioridades. Não, não é possível.

Pelo belo tratamento de edição, seleção de textos e fotografia, o livro Pois Sou um Bom Cozinheiro — Receitas, histórias e sabores da vida de Vinicius de Moraes (Cia. das Letras) é o melhor lançamento das comemorações dos 100 anos do poeta.

Vovó Neném

Permeado de poemas, crônicas e fotografias, estão lá desde as receitas que Vinicius gostava de cozinhar até os pratos de lugares que frequentava pelo mundo, as saudades da mesa brasileira que sentia no exterior e o início de tudo: as lembranças da infância próxima a Vovó Neném, cozinheira de mão cheia.

O título da obra organizada por Daniela Narciso e Edith Gonçalves é retirado do poema Autorretrato, em que Vinicius define a si próprio.

No livro Para Viver Um Grande Amor, e o nome diz tudo, o poeta dedica a uma de suas paixões o longo poema Feijoada à Minha Moda, e em outro momento escreve:

“(…) Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor… Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, estrogonofes — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica, e gostosa, farofinha, para o seu grande amor? (…)”.

Chapéu de Jóquei

Entre as doçuras da família, quitutes de nomes poéticos como o ‘Colchão de noiva’ (um bolo em camadas com calda de ovos), e o ‘Chapéu de jóquei’, criação do menino Vinicius com gemas e açúcar, pequenas bolinhas cobertas com calda de caramelo feita pela cozinheira.

A lista de pratos substanciosos gera receitas como o  ’Cozido generoso e colorido de meu pai, recendendo a paio e linguiça’, a ‘Fantástica carne assada da Vovó Neném’, o ‘Lombinho de porco bem tostadinho’, e o ‘Tutu com torresmo de ontem’.

No capítulo final, chefs como Alex Atala e Rodrigo Oliveira criam receitas interpretando textos famosos. O poema Receita de Mulher (“As muito feias que me perdoem…”), por exemplo, vira um ravióli crocante de banana ao maracujá com sorbet de tangerina, nas mãos de Alex.

Batata no Omelete

Assim como o ‘Franguinho na cerveja’, o ‘Omelete de batata’ é um dos pratos que Vinicius gostava de preparar, tortilla em versão rápida para momentos de fome e preguiça.

Para 2

1 batata pequena cortada em rodelas finas ou em cubos / 3 ovos / sal e pimenta do reino a gosto / 1 col. sopa de manteiga / 1 cebola pequena picada bem miudinho

Preparo

1 – Cozinhe levemente a batata em pouca água até ferver. Escorra e reserve.

2 – Numa tigela em separado, bata ligeiramente os ovos e tempere com sal e pimenta.

3 – Numa frigideira pequena (com aproximadamente 20cm de diâmetro), derreta a manteiga e refogue a cebola até que murche. Abaixe o fogo.

4 – Despeje os ovos na frigideira e distribua rapidamente a batata, cobrindo toda a área da frigideira. Cozinhe em fogo muito baixo, sem mexer, até que o fundo esteja firme e dourado. Vire a omelete deslizando-a da frigideira para um prato de mesa e colocando-a de volta na frigideira do outro lado, para que finalize a cocção. Sirva-a quente.

Pois Sou um Bom Cozinheiro — Receitas, histórias e sabores da vida de Vinicius de Moraes. Companhia das Letras, 296 páginas, R$ 90.

Créditos: as fotos de gastronomia são de Luna Garcia/Estúdio Gastronômico. As outras são dos arquivos familiares de Vinicius, publicada no livro.




Nossa Casa

 

Se você não faz fotossíntese, veio ao lugar certo.

 

Boca no Mundo é o blog do jornalista Pedro Landim.

 

Um lugar para quem adora comer, beber, cozinhar, e falar de comida.

 

Sejam muito bem-vindos.