Panelas a mil perto do céu – Boca no Mundo
Home » Vida » Livro » Panelas a mil perto do céu
30 de abril de 2013

Panelas a mil perto do céu

Quem está partida é a costelinha assada com baião de dois, porque a cidade deve se unir pela boca. Da laje à birosca, o roteiro está nas mãos de gulosos de todas as freguesias, que ganharam passaporte para conhecer paisagens únicas de cultura e natureza.

Da vendedora de empadas que canta funk e virou personagem de novela no Complexo do Alemão, à rabada que tira do sério a atriz Roberta Rodrigues, no Vidigal.

A carne de capivara é bem temperada na Rocinha, e no Morro dos Prazeres o frango inteiro vai para a churrasqueira.

O Guia Gastronômico das Favelas do Rio (Abbas Edições e ArteEnsaio, 170 págs., R$ 70) sugere passeio por 22 estabelecimentos de oito favelas, desvendando um mar de sabores do tamanho daquele azul que se avista do Chapéu Mangueira.

Laje do César:

“Estou gravando em Jacarepaguá e ligo para reservar minha feijoada no Bar Lacubaco, apesar de que a rabada é minha preferida”, conta a atriz Roberta Rodrigues, no ar como a Maria Vanúbia da novela ‘Salve Jorge’.

Moradora do Vidigal e freguesa do bar de Fábio e Fabíola, Roberta faz na novela o papel de moradora do Complexo do Alemão, onde Adriana Souza, a “moça da empadinha”, vende seus quitutes cantando funk.

Adriana acabou também no folhetim de Glória Perez, fazendo o papel de si própria: “Agora me divido entre as empadas e a TV, e ainda levo brigadeiros para a gravação”, conta.

Empadinhas da Adriana:

Com autoria de Ines Garçoni e Sérgio Bloch, e fotos de Marcos Pinto, o livro conta a história de cada favela e seus personagens cozinheiros, destacando os melhores quitutes.

Há bares também nas comunidades do Morro da Providência, Santa Marta, Tabajaras e Chapéu Mangueira, todas pacificadas.

“Às vezes o cara adora um pé-sujo no Leblon ou na Tijuca, mas torce o nariz quando se fala em favela. O Guia ajuda a quebrar esse preconceito, integrar. A diversidade é enorme, com comida boa e vistas incríveis”, afirma a autora Ines Garçoni.

Filé à Piemontese do Bar Lacubaco:

Francês no Tabajaras

No Tabajaras, a dupla de cunhados cearenses que já trabalhou na cozinha do chef francês Olivier Cozan, Romero e Augusto, tem o próprio Olivier como freguês e fã, assando disputadas costelinhas no Restaurante 48. Ou, na tradição francesa, servindo omeletes de champignon e de queijo com presunto.

Pescador e mestre de bateria de escola de samba, filho de grande líder comunitário no Chapéu Mangueira, David Vieira ficou conhecido no mundo inteiro pela comida de seu Bar do David, ao sair em reportagem do jornal ‘The New York Times’, e já subiu no pódio de concurso de botecos com seus petiscos.

Costelinhas do 48:

No Morro da Providência, o Sabor das Loiras reúne a mãe Rejane e a filha, Bárbara, que adoram abóbora e com ela fazem bolinhos recheados de carne-seca. Ou a lasanha de abóbora com carne e molho branco.

E, no restaurante Carnes do Glimário, na Rocinha, a geladeira exibe cortes de javali, avestruz, jacaré e muitos outros bichos.

Sem falar nas caipirinhas de mentol feitas com bala Halls ao estilo Ferran Adrià, no Morro da Providência.

Como bem resume o escritor Nei Lopes no prefácio do Guia, os objetos do livro são “assimilações e ampliações de hábitos alimentares de correntes migratórias que chegaram no Rio, influenciadas por variantes como, por exemplo, tempo de preparo e ocasião”.

Pertinho do céu

Não tem cobertura de hotel ou varanda de Zona Sul que se compare às vistas do Rio proporcionadas pelas lajes nas partes altas das favelas.

Destacando comida e paisagem, pontos como a Laje Do César e sua feijoada, no topo do Chapéu Mangueira, no Leme, trabalham com reservas de grupos e encantam fregueses de todas as partes do mundo.

Moqueca de peixe na Laje do César:

Tia Léa, já famosa cozinheira de celebridades, conhecida como a “Ana Maria Braga do Vidigal”, está nas páginas com seus churrascos, moquecas e bufê variado na laje com vista para o mar.

Rabada com angu da Tia Léa:

Já no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, quem se abre para os olhos é a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar, enquanto os frangos e costelas assadas no bafo vêm à mesa acompanhados de aipim, farofa, arroz, batatas fritas, molho à campanha e outras gostosuras no Bar do Tino (foto de abertura do post).

Programas distantes em outros tempos, agora ao alcance dos pés e da boca.

Costelas de cordeiro do Glimário:

Crédito: as fotos do livro e do post são de Marcos Pinto.

Dez dicas para subir o morro e encher a pança

MORRO DA PROVIDÊNCIA:

O Sabor das Loiras. As ‘loiras’ servem lasanha de abóbora com carne e frango à parmegiana. Bolinho de abóbora com carne seca é o carro-chefe.

Rua da Bica 41 (2283-2660/9174-1970). Diariamente, das 8h às 23h.

SANTA MARTA:

Bar do Zequinha. Serve delicioso frango à passarinho, carré ou contrafilé com feijão, arroz, salada e fritas.

Rua do Mengão 14 (7321-7456). Diariamente, das 11h às 2h.

TABAJARAS:

Restaurante 48. Romero Moreira e Augusto Alves servem costelinha assada com baião de dois, além de pratos como filé de peixe ou estrogonofe.

Rua Euclides da Rocha 48, acesso pela Ladeira dos Tabajaras (3208-0017). De ter a dom, das 7h à meia-noite. Seg, das 7h às 16h.

CHAPÉU MANGUEIRA:

Bar do David. David serve feijoada de frutos do mar no fim de semana e petiscos como o Tropeiro Carioca, com feijão, couve, bacon, carne-seca, paio e laranja arrumados na travessa.

Ladeira Ary Barroso 66 (7808-2200). De ter a dom, de meio-dia às 20h.

Laje do César. Atende grupos de, no mínimo, dez pessoas com hora marcada. A especialidade é a feijoada, mas oferece gostosuras como cozido, moqueca capixaba e mocotó.

Rua São Jorge, Casa 4 (2530-2506 / 7879-6319).

VIDIGAL:

Bar Lacubaco. Pratos como frango com quiabo e angu, costela com aipim, rabada e muitos outros, bem temperados, fazem fama na comunidade.

Avenida Presidente João Goulart 538 (2422-6649). De seg a sáb, das 11h30 às 16h.

Tia Léa. Atende com reserva pelo telefone e o pagamento é antecipado. Comida caseira com requinte, bufê variado e festas com churrasco e feijoada, entre outras especialidades.

Rua Moema Noronha, Casa 1 (8089-9961/7551-8095). Ao lado da Associação de Moradores.

ROCINHA:

Carnes do Glimário. Conhecido como o ‘Porcão da Rocinha’, assa carnes exóticas como codorna, javali e até lagostas.

Travessa Gregório 5 — primeira à direita, ao chegar no Valão (7897-2300). De ter a dom, das 10h à meia-noite.

MORRO DOS PRAZERES:

Bar do Tino. Frango e costela suína no bafo em temperos secretos.

Rua Almirante Alexandrino 3.780, casa 7 (2225-5780). Sáb e dom, das 8h às 20h.

COMPLEXO DO ALEMÃO:

Empadinha da Adriana. Ela canta paródias de funk para anunciar as empadas, aparece em ‘Salve Jorge’ e oferece sabores como camarão, queijo e bacalhau.

Circulando pela comunidade, sem local ou dia fixos, Adriana atende pelo telefone 7232-8080 e costuma vender às sextas-feiras ou sábados.




Nossa Casa

 

Se você não faz fotossíntese, veio ao lugar certo.

 

Boca no Mundo é o blog do jornalista Pedro Landim.

 

Um lugar para quem adora comer, beber, cozinhar, e falar de comida.

 

Sejam muito bem-vindos.