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19 de agosto de 2016

Verde é a cor mais quente no Parador Lumiar

 

O recorte ensolarado na montanha por onde se espalham chalés e jardins floridos, ao redor de um lago em que a paisagem se espelha como a tela de um pintor naturalista – com toques de impressionismo ao pôr do sol -, é o cenário de um fim de semana restaurador das energias de corpo e alma.

Enquanto a vista se alegra ao percorrer o terreno, e as malas já estão a caminho da habitação, um conselho: peça ali mesmo, na ampla recepção, um copo na pressão do delicioso Ranz Capineira, chope feito em Lumiar, cidade próxima, com malte alemão orgânico e capim limão.

É hora de afrouxar os cintos da vida e entrar no tempo do Parador Lumiar, onde a natureza e a gastronomia (ou, se preferir, a horta e a cozinha) estão ligadas por um cordão umbilical na Mata Atlântica, 850 metros acima do nível do mar.

Quem sabe uma pequena caminhada por alguma das belas trilhas locais, ou um passeio à cavalo na manhã de sábado para abrir o apetite? Você precisará dele, pois não se deve perder nenhuma refeição na pousada que o casal Marcelo e Marielza Fontes construiu em Boa Esperança, distrito de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, com o mesmo cuidado e atenção com que eles recebem os viajantes.

Jambu em Flor

A estalagem é também a residência culinária de Isaías Neries, que há quase uma década, bem antes de a expressão entrar na moda, já praticava ali sua cozinha ‘farm to table’, com agricultura sustentável e horta orgânica que fornece mais de 50 produtos para os fogões do Parador, entre folhas, legumes, raízes, frutas, ervas, brotos, flores e especiarias.

O 10º cardápio do chef confirma o apuro técnico e a criatividade para levar aos pratos o que a terra lhe oferece, num vocabulário próprio e local que surpreende na utilização dos vegetais como base para massas, molhos, caldos, pães, sorvetes, bolos e outras belezas de cores vivas.

O ravioli verde de pirarucu da foto acima, a massa feita com o jambu em flor que nasce na horta, lembra a paisagem na varanda do restaurante. Em tom semelhante, é surpresa refrescante o nhoque elaborado com a folha vick, afogado no molho da paleta de cordeiro desfiada.

A erva, diga-se de passagem, também conhecida como hortelã japonesa, é uma das colhidas frescas e levadas aos chalés, assim como camomila e alfazema, depositadas em copinhos ao lado de garrafa térmica para o preparo de chás relaxantes.

No aconchego das massas, os nhoques se tornaram especialidade do chef, que já fez mais de 100 com sabores de taioba, azeitona, tomate, batata roxa (na foto abaixo), beterraba e outros vegetais. Em cartaz neste inverno, o nhoque de berinjela defumada e cará é servido na manteiga de abobrinha, com vinho branco, alho poró e queijo grana padano.

Truta na Empada

Ao cair da tarde, porque ninguém é de ferro, vamos considerar uma soneca restauradora na rede ouvindo os passarinhos, antes de experimentar a sauna a vapor perfumada com folhas aromáticas, e as janelas de vidro dando para a piscina natural abastecida por uma fonte de pedra. Nas espreguiçadeiras, a maratona do paladar continua com empadinhas de truta e ciboulette, ou pastéis de tartare de berinjela.

Aposte sem culpa nas caipirinhas de frutas da época (carambola, jabuticaba, jambo…), até porque há uma sala de ginástica bem equipada com vista para o lago onde nadam tilápias, carpas e tambacus. A pesca é outra opção relaxante, basta solicitar o equipamento à recepção.

O jantar se aproxima e um pequeno caminho ao lado do restaurante, entre canteiros de tomilho, alecrim, sálvia e outros verdes cheirosos, leva à casa de pau a pique com espaço para massagens relaxantes, sob a qual se encontra a adega de pedra onde vinhos de ótimo custo-benefício aguardam o chamado.

Umbigo de Bananeira

É hora de experimentar outras novidades da temporada, por exemplo, o coração (ou umbigo) de bananeira – a flor de coloração roxa que se pendura na árvore. O interior tem textura que lembra o palmito, finamente fatiado e refogado com cebola em manteiga de garrafa, num prato vegetariano montado com os clássicos aipim frito, couve mineira, banana assada e farofa.

Há muito a se descobrir entre os salgados, mas é preciso reservar uma ponta de fome para os doces, terrenos férteis das invenções de Isaías. Outro dia, cortando jiló para fazer chips, veio a ideia de uma compota e o resultado da brincadeira foi uma quiche doce com calda perfumada em saquê, sorrindo na próxima foto.

No cardápio anterior, um bolo de chuchu com sorbet de chuchu, creme inglês e brotos do legume foi uma das melhores sobremesas que o blogueiro que vos esceve comeu no último ano, dando protagonismo e sabor inesperados a um produto desprezado na gastronomia.

À noite, antes de sonhar com os bolos que ainda estão por vir no café da manhã, a volta do jantar oferece a paisagem do vale salpicado de pequenas luminárias de barro, como um altar da natureza. Colocadas de modo estratégico, próximas ao chão e de luz suave, permitem a visão de um céu de estrelas que, na cidade, a gente até já se esqueceu que existe.

Simpatia Caipira

No último dia, pode-se agendar um jeep tour pela região, ou quem sabe caminhar até a cachoeira no terreno da pousada, próxima ao campinho de futebol e o galinheiro, onde são chocados os ovos caipiras encontrados no café da manhã.

Eles fazem companhia a tapiocas salgadas e doces (o de leite caseiro é receita de Marcelo, o dono), pães variados com versões de mandioca, sem glúten, e bolos de tomate, carambola, brócolis, agrião, milho com goiabada e outros ineditismos. Na série de doces é a vez do jambo, mas faça a si mesmo o favor de provar o de limão galego.

Quando a hora de entrar no carro para descer a serra se aproxima, com as baterias do corpo recarregadas, o gosto de quero mais é inevitável. Então fica a dica de ‘souvenir’: um dúzia de verdadeiros ovos caipiras frescos, embalados com todo cuidado para viagem. Funciona como simpatia para voltar.

Peaceness

De pescador em Búzios, nos anos 1970, a empresário do ramo imobiliário, Marcelo Fontes fixou residência no sítio de Boa Esperança cansado da vida urbana, e a ideia de um espaço confortável para receber amigos acabou desaguando na pousada onde a família caprichou.

Hoje são 13 confortáveis chalés espalhados pelo terreno, com camas king size, ar-condicionado, frigobar, televisão a cabo e todo o conforto para quem deseja curtir na serra o inverno de noites que podem indicar 8°C nos termômetros. Há lareira, aquecedor de toalhas e chuveirões com água quente pressurizada. Além disso, três chalés possuem ofurôs em varandas envidraçadas.

A pousada se encontra a 160 quilômetros do Rio, cerca de 2h45 de viagem, e a 560 quilômetros de São Paulo, algo como 7h distante. Em terreno próximo há um heliponto improvisado e hóspedes chegam também de helicóptero.

“As pessoas já se desacostumaram a um fim de semana sem barulho de carros, com segurança e tranquilidade. Gosto de uma palavra estrangeira para definir o lugar: peaceness”, diz Marcelo. Em livre tradução, algo como viver em paz.

As fotos são de Rodrigo Azevedo e Pedro Landim.

Parador Lumiar. Estrada do Amargoso s/n°, Boa Esperança, 5º Distrito, Nova Friburgo – RJ. Tel.: (22) 2542-4777 / 2542-4774. www.paradorlumiar.com




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