Tartare no Marais – Boca no Mundo
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21 de maio de 2013

Tartare no Marais

Histórias de superação comovem, contarei a minha.

Início da década de 80 em Paris, um moleque metido a comer coisa diferente e a mãe atenciosa num bistrô do Marais. A região dos judeus, na época, não era sombra da coqueluche atual de lojas caras de moda, casas noturnas e galerias de arte, que substituíram pequenos restaurantes e negócios de bairro.

A linda área não planejada da cidade ainda não era ‘hype’, e o tal garoto estava mais interessado em videogames e canetas fosforescentes, embora se divertisse vendo Kandinsky no Beaubourg.

Pois vieram à mesa escargots no figurino da Borgonha, muito alho e manteiga, e um pedido feito de boca cheia: steak tartare.

A lembrança do prato de carne crua na casa do avô, vermelho como sangue e enfeitado pela gema amarela, bateu no paladar.

Empolgado com tantos molhos e ingredientes que vieram para o freguês temperar a carne na mesa, o menino deslumbrado sentiu-se chef, saiu misturando tudo até obter um resultado próximo do intragável.

Temperado

O rapaz cresceu e ganhou muitos quilos comendo de tudo, virou fã incondicional dos tartares bem temperados mas levou pela vida o trauma que só foi dizimado três décadas depois, em capricho do destino, ali mesmo, no Marais.

A busca de um lugar para ser feliz domingo à noite nos levou ao Café des Musées.

Numa esquina da Rue de Turenne, comi divino steak tartare, e minha melhor batata frita de Paris (parece que mesmo por lá as congeladas andam aparecendo mais do que deviam).

A carne crua muito fresca, picada na faca em cubos graúdos e com os itens bem picados no prato para o freguês temperar: alcaparra, cebola roxa, salsa, picles, maionese rosada e vidros de ketchup e molho inglês.

É neste parágrafo que devemos derramar as lágrimas de emoção: entre suspiros e com a boca cheia d’água, temperei cada garfada aos poucos e devagar, fechando entre goles de champagne Drappier capítulo grandioso da biografia de um guloso.

Cardápio

Entre pichets de vinho diversos, voltamos ao lugar uma semana depois aumentando a lista de delícias degustadas na casa:

Houve perfeito cassoulet, com direito a pescoço de carneiro (18 euros); e fatias de salmão defumado na casa, com pão caseiro e quentinho de campanha, e creme azedo fresco (13).

Também terrine de fígado de galinha com Calvados, acompanhada de conserva de cebolas agridoces, e uma genial saladinha de cenoura com mostarda ‘ancienne’ bem picante (8,50).

Do mar, um filé de robalo (peixe do dia) em caldo de legumes da estação (25); e sobremesas como uma terrine de chocolate e um crepe de caramelo na manteiga, acompanhado de taças de vinho doce de Jurançon (6).

O restaurante do chef Pierre Lecoutre oferece produtos caseiros como terrines, salmão orgânico defumado e foie gras ‘mi-cuit’ para viagem, vendidos a peso.

Sugestões para um piquenique dos sonhos na vizinha Place des Vosges, parada obrigatória no programa para abrir o apetite, ou digerir a paisagem histórica francesa.

Pode-se reservar mesas pouco antes do jantar, e há simpático balcão sobre a cozinha aberta. Mas chegamos sem reservar e esperamos apenas 5 minutos. As sugestões do dia estão no quadro negro e menu muda de acordo com a estação.

No cardápio, entradas de 6 a 15 euros; e principais de 14 a 25. A taça de champagne Drappier Brut sai por 8 euros.

Café des Musées. 49 Rue de Turenne. 33 1 4272-96 17. Metrô: Chemin Vert (Linha 8). Café da manhã das 10h às 11h30. Almoço das 12h às 15h; e jantar das 19h às 23h. Sábados e domingos, a partir das 15h30 às 23h. Aceita todos os cartões de crédito.




Nossa Casa

 

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