Pomodori e o clássico autoral
Compartilhe:
- Tweet
Eram, a rigor, três itens no couvert. A breve crônica de uma felicidade anunciada. Algo assim: sorria, você está no Pomodori.
É o que dizia a focaccia alta e macia de fermentação natural, perfumada em tomates. E um retângulo de manteiga amendoada, a consistência de tutano ao derreter ganhando a boca. No centro, a compota de berinjela. Apenas uma colher, mas como descrevê-la?
Pães artesanais, manteiga amendoada, compota de berinjela:
Havia grande expectativa e muitos motivos para gostar, nenhum deles maior do que os presentes recebidos em louças diferentes para cada capítulo de uma história de terra e mar.
O trabalho de Tássia Magalhães, a chef, se anunciou na colher. Pequenina, de chá, das que a gente usa para visitar o líquido interior do ovo quente.
Pelo ‘falso ovo’ anunciado, o esperava no formato estalado das grifes atuais, ingredientes assim listados: couve-flor, queijo de cabra, vieira marinada e pérolas caramelizadas.
Veio, porém, na casca partida de cerâmica o exercício de delicadeza e sabor. Se fosse abrir o livro de biologia no veterano gráfico da língua, diria que foi atingida em cada meridiano.
Falso ovo com vieiras, couve-flor, queijo de cabra e pérolas:
Dos microcubos de vieira crus no fundo às bolinhas adocicadas na superfície, de sabor minimalista e notável, lembrando-me de certas ‘pérolas’ sem gosto de nada que teimam em pintar nos menus. Condutora do paladar, a ‘clara’ é uma vedete.
O polvo e o porco
O menu do Pomodori 2015, após a reforma de salão e cozinha, se divide em dois: o clássico e o autoral. No primeiro, receitas marcantes da casa onde a cozinheira chegou como estagiária e construiu sua história. No segundo, a personalidade atual. Foi meu escolhido.
Ainda assim, já existe um clássico por ali. O fusilli com polvo, pancetta e linguiça artesanal em molho de tomate fresco. “O ragu definitivo”, pensei, na empolgação da primeira garfada.
Fusilli, conforme o conhecemos na versão grano duro das prateleiras, é o tradicional parafuso. Mas a massa fresca da Tássia pula fora do manual, usando como ‘fuso’ um canudo retorcido para tecer e aprisionar o molho que atesta a amizade profunda entre o porco e o polvo. Textura, tempero, envolvimento. Um prato obrigatório.
Ainda esteve na mesa o belo quadro de sinfonia marítima que experimentei com os olhos e escolhi para a abertura do post. Frutos do mar grelhados e risotto ao nero di seppia.
Fusilli com polvo, pancetta e linguiça artesanal:
Muito Chocolate
Todo restaurante precisa estar preparado para emergências chocólatras, e a nova sobremesa do Pomodori é um tijolo que só pode ter sido retirado da casa descoberta por João e Maria na floresta. No caso, a Mata Atlântica do cacau.
Um bolo de brigadeiro intenso e regado, conforme diz o cardápio, com “muuito chocolate”. É impossível não manchar os lábios, a fórmula exige o guardanapo depois de cada mordida. Ou a boca repleta de chocolate. Happy end.
Bolo de brigadeiro em profusão de chocolate:
Investimento
Entradas de R$ 27 a R$ 43; principais de R$ 53 a R$ 88; sobremesas de R$ 29 a R$ 33. Menu degustação de quatro pratos e uma sobremesa: R$ 160. Menu nu autoral fora do cardápio, de seis pratos e sobremesa: R$ 220.
Pomodori. Rua Doutor Renato Paes de Barros 534, Itaim Bibi, São Paulo (11 – 3168 3123). Segunda a quarta, das 12h às 15h, e das 19h às 23h30; quinta, das 12h às 15h, e das 19h à 0h; sexta, das 12h às 15h, e das 19h à 0h30; sábado, das 12h às 16h, e das 19h às 0h30; domingo, das 13h às 17h. Aceita todos os cartões.