Omnivore in Rio
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Como nos Três Mosqueteiros (como sabemos, eram quatro), os cariocas Felipe Bronze, Pedro de Artagão, Thomas Troisgros e Rafael Costa e Silva fazem das facas suas espadas para aprontar no reino do Omnivore. A comparação, feita pelo jornalista francês Luc Dubanchet, tem a cara descontraída do festival criado por ele, que finca bandeira no Rio como provável divisor de águas na gastronomia da cidade.
Marcado pela juventude dos participantes, questionador e provocador de novidades, o Omnivore fará sua primeira edição brasileira de 26 a 29 de setembro, com base no Jockey Club, reunindo 13 chefs talentosos — sete brasileiros e seis estrangeiros — em jantares conjuntos e aulas para grandes públicos.
“Há pouco tempo, ouvia dizer na Europa que o Rio não tinha chefs, nem gastronomia. Então resolvi pesquisar e apostar, no espírito do Omnivore. Chego aqui como a criança que começa a descobrir novos gostos e sensações, e garanto que em poucos anos a cidade estará brilhando no circuito internacional”, disse Luc, na semana passada, no complexo Lagoon, à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, apresentando a festa a jornalistas e chefs do Rio.
Ex-editor do influente guia Gault Millau, ele criou há 10 anos o festival para sacudir a gastronomia francesa – um tanto acomodada na tradição – e apostar em novos chefs.
Carbonara, de Pedro de Artagão:
Cidade
O quarteto citado representa com categoria uma geração que tem tudo para fazer história, cuja amizade e colaboração, no curto espaço geográfico que separa seus restaurantes, entre os bairros de Jardim Botânico e Humaitá, se fortalece com a chegada do Omnivore. No melhor estilo ‘um por todos, e todos por um’. No caso, todos pelo Rio.
Não se trata de bairrismo ou disputa, mas do equilíbrio da balança. Como bem disse Felipe Bronze, que ano passado esteve na França como o segundo brasileiro (depois de Alex Atala) a participar de uma edição do festival.
“O Rio está finalmente saindo das margens, e isso é bom para todos nós. Se São Paulo é um mercado mais estabelecido, um pilar econômico instransponível, o Rio sempre teve a dianteira cultural, lançou tendências. A irreverência do Omnivore é a cara da cidade”, diz o chef.
Leitão, maçã assada e farofa de cacau, de Thomas e Claude Troisgros:
Bronze, do Oro; Thomas, do Olympe; Pedro, do Irajá Gastrô; e Rafael, ex-subchef do espanhol Mugaritz, um dos melhores restaurantes do mundo – que entre São Paulo e Rio acabou escolhendo o segundo para abrir em breve seu restaurante -, serão os anfitriões na festa.
O time brasileiro se completa com o ‘decano’ Claude Troisgros, pai de Thomas; Alberto Landgraf, do premiado Epice, em São Paulo; e Thiago Castanho, prodígio da cozinha paraense no Remanso do Peixe, em Belém.
Na foto abaixo, Pedro (à esquerda), Rafael, Felipe e Thomas.
Culinária Poética
Até o momento, há três estrangeiros e franceses confirmados:
Armand Arnal, que depois de sete anos como chef de Alain Ducasse, em Nova York, voltou a sua Camargue e abriu o La Chassagnette, trabalhando apenas com produtos orgânicos locais.
Sopa de ervas e queijo brousse de cabra, de Armand Arnal:
William Ledeuil, do venerado Ze Kitchen Galerie, contemporâneo com toque asiático em Paris.
Tamboril com aspargos, de William Ledeuil:
Dominique Crenn, instalada em São Francisco, Califórnia, e anunciando uma “culinária poética” em seu Atelier Crenn, com duas estrelas Michelin – única mulher a conseguir o feito nos EUA.
‘Passeio na Floresta’, de Dominique Crenn:
Sala de Aula
Os eventos principais do festival são as Master Classes com os chefs, que pretendem reunir 5 mil pessoas em 3 dias, com inscrições pagas feitas pela internet; os Amazing Dinners, jantares feitos em três restaurantes da cidade sede, unindo chefs brasileros e estrangeiros, sempre a quatro mãos; e o Omnivore Dinner, jantar para 100 convidados preparado por três chefs.
A turnê mundial do Omnivore já passou por cidades como Paris, Genebra, Bruxelas, Moscou, Copenhague, Xangai, Nova York, Montreal, São Francisco, Istambul e Sydney. O Rio vai entrar para o calendário anual.
“Há grandes festivais no mundo, como o Madri Fusion e a Gastronomika, de San Sebastián, mas o Omnivore é o mais legal, descontraída, o clima é diferente”, diz Rafael Costa e Silva.
Com propostas de peso para abrir em São Paulo seu restaurante, ele optou pela cidade que estará sob os olhos do mundo nos próximos anos: “É a hora e o momento do Rio”.
Créditos: a foto de abertura, barriga de porco e jabuticaba de Felipe Bronze, é de Daniella Duarte. A segunda é de Alexander Landau. A do leitão de Thomas é de Thiago Sodré. A foto dos chefs é de Pedro Landim. As demais são reproduções da internet.