O pouso carioca do Rubaiyat
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Estava comentando na mesa: certos restaurantes de peso, redes de alto padrão nascidas na Tera da Garoa, quando aterrisam na paisagem carioca se incorporam de um jeito que parecem ter nascido para a cidade, de imediato ivadidos e adotados por freguesia descontraída e ávida por novidades com certo padrão de serviço que nos falta ao longo da história.
Para ilustrar, citei o encontro mágico do Astor com o Arpoador, imaginando o que pode acontecer, e já aconteceu, com o pouso do Rubaiyat na amplidão ensolarada do Jockey, onde os cavalos galopam e a vista desliza do Cristo Redentor aos relevos de Copacabana e Ipanema, os horizontes da Lagoa e tudo isso a 50 metros da entrada do Jardim Botânico.
Ao meio-dia de sexta-feira, vi a porta imensa de madeira se abrir e encontrei o vasto salão vazio, todo iluminado pelo dia através as paredes de vidro. Um bar imponente na entrada, enorme adega vertical no canto e a cozinha com parrilla aberta, por trás de um balcão de gelo com lagostas, lagostins e vieiras que me levou até a varanda larga de pedras portuguesas.
Parêntese: duas horas depois, os 240 lugares estavam ocupados e havia pequena fila na porta. Só para ficar em mesas próximas à minha, almoçavam naquele momento um ex-governador com a esposa, um dos donos da Rede Globo com a família, um famoso jornalista e apresentador de televisão, o proprietário de um premiado restaurante de carnes da cidade, e uma conhecida sommelière argentina. Assim caminha o Rubayat carioca na sexta-feira.
Mares da Vida
O restaurante traz uma cozinha fresca que visita litorais do mediterrâneo, incluindo influências sul-americanas recentes na rede como os tiraditos e ceviches. O de camarão, e isso é raro, trazia o bicho bem fresco e apenas no limão, sem o pré-cozimento que certas vezes passa do ponto e tira a graça do prato.
O carpaccio de vieiras em azeite cítrico e mostarda já dá para listar entre as melhores entradas da cidade. O tiradito de atum vem perfumado em funcho, lâminas de abacate e rodelas de minha musa dedo-de-moça.
E a versão em lâminas do funghi confitado em azeite trufado, com pinoles e agrião, preparou a boca para os atores principais.
Primeiro, o Caixote Marinho: caçarola fumegante que assa no forno, por três minutos, pedaços frescos de polvo, camarões, vieiras, peixe, lula e lagostim, com toques do molho de alho e salsa e o arroz de açafrão-da-terra que o garçon deposita como pincelada final no quadro.
Boiada
No prazer que vem dos pastos, temos finalmente por perto as carnes nascidas na fazenda do grupo em Dourados, terra de lavoura e bois no Mato Grosso do Sul. A maior parte dos cortes vem de lá, onde reina o gado Brangus, cruzamento do Angus britânico com o indiano Brahman.
Recebi fraldinha alta e simplesmente perfeita, em ponto, sabor e textura, perfumada sutilmente em carvão e servida sobre pequenas hastes de ferro, simulando miniparrilla. Sou maluco pela fraldinha bem feita, carne de gosto complexo e pronunciado.
Há também a Picanha Summus e o chorizo entre os muitos pedaços de boi disponíveis, e seção de cortes distintos para duas pessoas como o Super Beef, um dos poucos na cidade maturado através do processo ‘dry aged’, descansando por 21 dia em câmera fria.
Todas as carnes são acompanhadas das admiráveis batatas suflê (souflée, se preferir) que também fazem par perfeito com o steak tartar. Ainda não falei dele? Vem na ponta da faca, carne muito fresca e temperada com precisão.
Assim como o amigo Bruno Agostini, não consigo pensar em outra tática para devorar o conjunto que não seja rechear as batatas crocantes com a carne macia.
Conheça a história de superação de um guloso atrás de carne crua em Paris.
Pingas do Rio
Outros detalhes que contribuem para a fama e o charme da casa, e você não deve perder: a focaccia em forma de disco que vem no suporte de madeira lembrando um troféu. Os pães de queijo de polvilho quentinhos e estalando na boca, merecedores de um troféu. As garrafinhas de cachacinha gelada de Mocóca (SP), pura ou com limão e mel, na hora do café.
Aliás, uma nota exclusiva: o Rubaiyat Rio pretende lançar carta de cachaças artesanais apenas com rótulos produzidos no estado, o que seria um golaço daqueles de Van Persie.
Apenas um ponto, sobre o qual já ouço comentários pelo bairro, precisa ser pensado pelo restaurante, e os demais que ocuparão a área até o ano que vem, formando um complexo de gastronomia no Jockey: o estacionamento. O esquema de entrada dos carros deixa a desejar e a Rua Jardim Botânico se reduz a uma pista no local, nos horários de maior movimento.
No mais, lembro que é importante traçar objetivos na vida. E meus próximos são a feijoada de sábado, feita com o porquinho criado solto e outros ingredientes da fazenda, e o suculento hambúrguer da grife. Partiu?
Investimento: os cortes bovinos da fazenda ficam em torno de R$ 78, e vêm com babatas suflê. É possível dividir com o pedido de guarnições, que custam em média R$ 17. Entradas em torno de R$ 33. Couvert caprichado a R$ 17. Os preços são relativos a julho de 2014.
Rubaiyat Rio. Rua Jardim Botânico 971 (3204-9999). De segunda a sábado, das 12h à 0h30; dom, das 12h às 18h. Aceita todos os cartões.