O pássaro, o cavalo e o cordeiro – Boca no Mundo
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31 de outubro de 2013

O pássaro, o cavalo e o cordeiro

É ele o pássaro escuro que canta enquanto a noite morre, nas notas do violão de Paul McCartney. Blackbird, o melro que pairou sobre os vinhedos de pequenas uvas escuras e doces, inspiração poética de seu batismo: merlot.

A uva que pousou na margem direita do rio e, ao final do século 18, deu fama a certos vinhos no sagrado território de Bordeaux.

Porque no flanco esquerdo das águas, mesmo a poderosa rainha cabernet sauvignon, quando resolve se aprontar para o baile, pede aos súditos a presença de sua estilista merlot, como faz a top model em busca do adereço elegante.

Mas o que pode aprontar, sozinha, tal dama de companhia?

Sutilezas

É certo que a merlot mostrou já no princípio da carreira que poderia brilhar longe da companheira histórica, mas foi modernamente desonrada pelo senso comum enófilo, diante, provavelmente, de varietais baratos e descuidados.

Pergunte ao enófilo e escritor desiludido Miles Raymond, personagem principal do filme Sideways, que resolveu jogar a culpa de seu fracasso na uva de supostas poucas sutilezas.

Quando recorre ao tesouro, porém, quem entra em cena é um Château Cheval Blanc 1961, sorvido em copo descartável na lanchonete: a lenda engarrafada é um corte em proporções semelhantes de cabernet franc e merlot.

Porta do Paraíso

Pois no mesmo solo argiloso de Saint-Émilion, à margem direita, cavalos de outras cores também galopam sob a revoada de melros. E tive o prazer de conhecer o Chateau Cheval Noir, um Grand Cru da família Mähler-Besse, jantar no divino Alloro com a presença de Jérôme Thienpont, gerente de exportação da marca.

Noite que teve sua apoteose franco-italiana no cordeiro do chef Luciano Boseggia em companhia do Château Noir Cuvée Le Fer 2009.

Um 100% merlot que é daqueles vinhos que se tem vontade de beber para sempre, com sua textura de seda, suas ameixas e especiarias, seu chocolate escuro, sua concentração elegante.

De safra elogiada, tem 12,5 de álcool, elaborado a partir de 2 hectares de vinhas velhas de merlot. São uvas colhidas à mão, produção de baixo rendimento, com cerca de 24 meses em barricas novas de carvalho.

Vinho caro, como são por aqui os grandes de Bordeaux. Mas ainda assim barato, frente ao que se paga aqui por eles. Pertencente a uma faixa onde o merlot é a porta do paraíso.

Festa na Boca

Começamos com o carpaccio de polvo com caviar de salmão. Nas taças, o Cheval Noir Bordeaux Blanc.

Em seguida, irretocável ravióli de vitela com molho de cogumelos. Nas taças, duas opções: o Cheval Noir Saint-Émilion Grand Vin (70% merlot/30% cabernet franc), e o Chateau Picard Saint-Estèphe (85% cabernet sauvignon/15% merlot).

E (o perfeito) pente de cordeiro em crosta de ervas, com (o perfeito) risotto à milanesa. Nas taças, o Château Cheval Noir Cuvée Le Fer, nosso herói.

Voa, pássaro preto…

Investimento

A Decanter traz os vinhos, disponível em lojas como a Espírito do Vinho.

Cheval Noir Bordeaux Blanc (R$ 89). Cheval Noir Saint-Émilion Grand Vin (R$ 138). Chateau Picard Saint-Estèphe (R$ 149). Château Cheval Noir Cuvée Le Fer (R$ 382).

Visite aqui a noite mágica de nove safras do Almaviva.




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