Lorenzo e as batatas: bistronomia carioca – Boca no Mundo
Home » Restaurantes » Lorenzo e as batatas: bistronomia carioca
11 de julho de 2016

Lorenzo e as batatas: bistronomia carioca

Ao vencedor, as batatas Hasselback. Calma, gente. Ninguém precisa se estapear no front. Tem para todo mundo, posando ao lado da paleta de cordeiro desossada no próprio molho, coberta com alho crocante e vigiada pela farofa de Panko. Como pode tal colosso, me pergunto a respeito do tubérculo, ter estado a vida inteira ausente em nossas casas de restauração?

Pensando bem, melhor é cravar-lhe o garfo e responder com outra pergunta: onde mais, se não for no Lorenzo Bistrô?

Pois mostre-me sua batata e lhe direi quem és. A performance da receita escandinava surgida há quase 100 anos resume de forma deliciosa o estilo e a personalidade da casa de toldo carmim no início da Rua Lopes Quintas.

Cercado pelas copas das árvores, um dos mais agradáveis terraços da cidade nos acolheu, à luz de velas, para a noite em que Janjão Garcia e Mariana, pai e filha, apresentaram novidades no cardápio. Uma dessas noites que os anos vão passar e a gente vai continuar lembrando de cada prato, de cada assunto, de cada palavra do Janjão, esse personagem que (ô, sorte!) não larga a pena com a qual escreve capítulos indeléveis da gastronomia carioca.

Tagliatta de frango com tomate seco, açafrão e ricota, molho cítrico e legumes:

O Rio é hoje uma cidade de chefs estrelados e talentosos, capazes de malabarismos contemporâneos a ponto de colocar nossos restaurantes na mira de listas com a World’s 50 Best. Tudo muito bom, mas onde está a boa comida de bistrô?

Em sua fala à pequena e atenta plateia, Janjão foi feliz ao imaginar o Lorenzo como um representante carioca da ‘bistronomia’, movimento parisiense que leva os grandes cozinheiros de volta ao fogão em casas de ambiente tradicional, onde o freguês reconhece o que está escrito no menu, mas se surpreende na hora da entrega. Algo como a emoção de reencontrar um amigo de infância e ver que ele está em plena forma – porém mais espirituoso.

Creme de aspargos, crocante de Parma, brotos e crostini de focaccia:

O restaurateur também tocou em ponto importante ao dizer que o Lorenzo é apenas um: “Não haverá outro no Leblon, ou na Oscar Freire”. Nos dias que correm, a notícia é um alento. Precisamos de restaurantes únicos, cuja grande aventura seja servir bem e cativar os clientes.

No caso, trata-se de um filho único de mãe francesa, pai italiano e chef brasileiríssima: Alessandra Belliny merece nossos aplausos personificando, em sua discrição, uma cozinha cujas massas frescas deixam italianos laureados comendo poeira. E os franceses aplaudindo canards, poules e bourguignons.

Boeuf Bourguignon:

A propósito, não contem para ninguém, mas há um freguês que deixa na cozinha um tabuleiro de batatas para depois buscá-las à moda Hasselback. Lembram delas? Aquelas bonitas e festivas, em formato de acordeon, com texturas distintas em cada mordida, simplesmente feridas em diversos cortes paralelos antes de dourar no forno. Tem felicidade maior do que essa?

Crepe de goiabada da Casa Carandaí com calda de queijo gratinada:

As fotos são de Rodrigo Azevedo.

Lorenzo Bistrô. Rua Visconde de Carandaí 2, Jardim Botânico (2294-7830). Seguda a quinta, das 12h às 23h30; sexta, das 12h à 0h; sábado, das 13h à 0h; domingo das 13h às 17h30. Aceita todos os cartões.




Nossa Casa

 

Se você não faz fotossíntese, veio ao lugar certo.

 

Boca no Mundo é o blog do jornalista Pedro Landim.

 

Um lugar para quem adora comer, beber, cozinhar, e falar de comida.

 

Sejam muito bem-vindos.