Bem-vinda Pici Trattoria – Boca no Mundo
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12 de agosto de 2016

Bem-vinda Pici Trattoria

“Contemporâneo é fácil, difícil é fazer o tradicional”. Foi a frase inicial do chef Thiago Berton, dita com um sorriso de esforço recompensado no rosto ao deixar a cozinha da Pici Trattoria para dois dedos de prosa no meu cafezinho.

A notícia havia sido para a mim a melhor do ano, em termos de expectativas, de que Thiago – na ponta da turma ‘contemporânea’ que veio do espanhol Mugaritz formar a tropa de choque do Lasai -, preparava-se para comandar uma trattoria italiana no Rio.

Um sopro de renovação na culinária essencial que parece um tanto fatigada e acomodada no eixo Rio-São Paulo, onde as histórias de colonização urbanas fizeram a palavra ‘italiano’ ser praticamente um sinônimo de ‘restaurante’.

O lance, meus amigos, voltando à frase inicial do cozinheiro, é que a comida italiana em sua base caseira, rural e mediterrânea, veste suas principais receitas de uma simplicidade difícil de se atingir. E não se pode abandonar a paixão que tanto renova quanto respeita as tradições.

Louvação

São panelas rainhas na louvação do ingrediente, na arte de apresentá-lo sem máscaras, trabalhado em refogados perfeitos, fornos pacientes, molhos frescos e massas que precisam de produção diária e certo acento rústico. É  o caso do ravióli de ossobuco, com carne fartamente desfiada por dentro, manteiga de tutano, sálvia e limão, uma escolha feliz.

A caponata do couvert abriu a refeição trazendo cor, frescor e delicadeza, e minha tara pela carne crua foi saciada pelo ‘crudo’ de patinho na ponta da faca, em conserva de trufas negras e azeite extra virgem, com a gema de codorna solta por cima (salpicada em flor de sal) e o excelente pão da casa.

Foi quando o chef resolveu enviar gentilezas em forma de bruschettas de guanciale, a celestial papada (pode ser bochecha) do porco curada em fatias finas de sabor intenso, dispostas sobre tomate fresco e picles de rabanete. Festa na boca.

A sobremesa é para dividir, e se o leitor tem algum apreço pelo tiramissu deve marcar na agenda a visita como prioridade. A imagem diz muito sobre o sujeito cujo pão de ló é molhado por uma calda especial de café que escorre nas colheradas.

Nada de Rolha

Peço agora um minuto de atenção a quem vive a reclamar dos preços abusivos da cidade, nem sempre refletidos na qualidade da comida. O almoço executivo no restaurante inclui salada, prato principal e sobremesa a R$ 38. No almoço, por sinal, qualquer prato dá direito a entrada e sobremesa do dia.

Há muitos pratos abaixo dos R$ 50, incluindo o mais pedido da casa: a massa pici, que batiza a trattoria ao molho de tomate fresco, linguiça artesanal, shitake e alecrim.

Quer mais? A Pici não cobra rolha.

Viva Miles

É preciso dar tempo ao tempo para avaliar melhor o estabelecimento recém-aberto, mas a bola de cristal é generosa. O conjunto da obra empolga na Pici, com ambiente bem arquitetado que sugere diferentes climas, dos sofás de cor azul marinho aos azulejos hidráulicos, do pequeno lounge de espera ao bar discreto no fundo, e o grande espelho onde está pintado o menu musical da casa: grandes nomes do jazz de todas as épocas.

What a wonderful world, amico mio.

Pici Trattoria. Rua Barão da Torre 348, Ipanema, Rio. Tel.: (21) 2247-6711.




Nossa Casa

 

Se você não faz fotossíntese, veio ao lugar certo.

 

Boca no Mundo é o blog do jornalista Pedro Landim.

 

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