A aventura asiática do Mee
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A imponência do cenário onde se descobre o salão de luxo discreto, enfeitado pelo balcão de ônix reluzente, sugere cena de James Bond: uma degustação de sushis e saquês raros com o vilão oriental, sob o olhar misterioso dos rostos femininos nas telas gigantes. A poucos metros, a bond girl submerge no espelho azul onde nine out of ten movie stars já deram seu tchibum.
O Mee começa ali, na piscina do Copacabana Palace. E inicia o segundo ano de vida mantendo a alta patente quando o assunto é o peixe cru no fio da faca. No idioma das woks, apara as arestas da cozinha quente — leia-se fogo e pimenta (adaptada, porque o sudeste aqui é outro).
A convite do hotel, comecei bem pelos sashimis: barrigas de atum e salmão, pargo com flor de sal, olho de boi com yuzu (a fruta cítrica asiática), vieiras cruas e trufadas.
E vieram sushis que trouxeram bons tempos, feitos com o toque da raiz forte entre arroz e peixe. Por que e quando abandonamos isso?
No Mee, os melhores peixes vêm de frescos de São Paulo, pelo fato de que o mercado no Rio não reúne a estrutura e o profissionalismo necessários para entregar o que o restaurante precisa, com a qualidade desejada.
A casa prefere embarcar congros, robalos e atuns na ponte aérea, ainda que isso encareça o (excelente) produto final.
Salmão carpaccio, ovas, massa crocante, molho cítrico:
Ásia do Sabor
O passeio pelas receitas de olhos puxados foi guiado pelo gente fina Bruno Teramoto, subchef de Rafael Hidaka, um dos grandes da cozinha japonesa paulistana.
Ambos a serviço do menu criado pelo chef e celebridade Ken Hom, que tem programa de TV na BBC, mora em Paris e passa quatro meses por ano na Tailândia. Antes de abrir o restaurante, o trio passou dez dias na Tailândia, comendo de tudo. Em maio, Ken estará no Rio para uma renovação no cardápio.
Clique para conferir o jantar, a receita e a entrevista com Ken Hom.
Camarão, nozes caramelizadas:
O menu que me foi servido mantém, apura e equilibra a proposta de sabores com raízes no sudeste asiático, Japão e China.
Não me deixa mentir o rolinho ‘vietnamita’, síntese da sedução do estilo, na alternância de texturas e sabores. Há mais de dez ingredientes na mordida, e todos sabem a hora de falar.
Carne de porco (lombo e barriga), harusame (macarrão de arroz), cogumelos, pimenta dedo de moça e especiarias na folha de arroz frita, que se enrola em alface refrescada por folhas de manjericão, hortelã e coentro.
Folha de arroz, porco, harusame, cogumelos, pimenta, alface, ervas:
Em seguida, um oposto chinês com apenas dois sujeitos: camarões grelhados e nozes carameladas em mel e especiarias. Explosões diferentes e adoráveis.
No pad thai, celebridade tailandesa, perguntei pelo ovo, sem perceber que estava bem ali, sutil entre camarões, amendoins, brotos de feijão, coentros e outros aromas no macarrão de arroz em fundo aromático e agridoce.
Foie gras sobre tira de wagyu? Respiramos fundo. Era um filé mignon, com cubo macio de beringela e dois grelhados: quiabo e talo de cebolinha. Ponto forte? O molho à base de missô, ingrediente que a cada dia me revela um pouco mais de seu imenso potencial.
Filé de wagyu, foie gras, missô, especiarias:
Dim Sum a Caminho
Faca em punho, Bruno Teramoto disse que o Mee está conseguindo agora equiparar a qualidade da cozinha quente com a dos sushis e sashimis.
Deverá entrar na carta, em breve, uma seção dedicada ao dim sum, que são pequenas porções de itens como pasteizinhos chineses servidos em cestinhas de bambu.
O repasto foi acompanhado por saquês fantásticos, de corpos e aromas distintos, graus de polimento dos grãos, níveis de filtragem e outros detalhes que não anotei, optando apenas por me entregar às versões dos deuses nas taças coordenadas pela sommelière Rejane Kawano.
Sim, encontrei também Jessica Sanchez, que me preparou delícia de drinque na despedida, mas o desembarque da menina-prodígio no Copacabana Palace merece um novo post.
O Mee reflete os novos tempos do hotel, empenhado em levar o carioca requintado para suas dependências, se aproximar da cidade e seus moradores. Mantendo a pegada, permanecerá na tropa de elite dos restaurantes cariocas.
Investimento: um jantar variado vai custar R$ 200 por pessoa, sem bebidas.
Mee. Hotel Copacabana Palace. Av. Atlântica 1.702, Copacabana (2548-7070). Segunda a quinta, das 19h à 1h, sexta a domingo, das 12h às 17h, e das 19h à 1h. Aceita todos os cartões.