Hoje é dia de Fraldinha
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Nunca mais quero seu beijo, mas meu último desejo você não pode negar: uma churrasqueira, carvão e peça inteira de fraldinha. Permitam-me a citação do enorme poeta de Vila Isabel para falar desse amor.
É verdade que sou da geração criada na redenção do corte, desde cedo aprendendo na churrascaria que a fraldinha é uma das carnes que não deve ser recusada, embora nem sempre aporte no ponto correto de cozimento.
Penso numa degustação às cegas de carnes na brasa: como não reconhecer a fraldinha e sua mastigação distinta, seu gosto provocador, acentuado, lembrando os miúdos? Deve correr muito sangue ali em torno do diafragma, onde ela exerce sua elasticidade dentro do boi.
Enfim, retirada a gordura o que temos é a manta vermelha que se espalha na extensão da grelha, tomando todo o espaço sobre as brasas da pequena churrasqueira de quatro pés que manejo quando subo a serra. Sal grosso generoso nela e vamos ao deleite.
Nenhuma carne vermelha grelhada deve ser bem passada, isso é evidente. No caso da fraldinha, porém, é crime inafiançável. Passar do ponto a deixa parecida com a sola de seu All Star azul. Tampouco deve resultar crua, em efeito chiclete. Nada que a presença atenta a carinhosa do churrasqueiro não resolva.
A cebola com manteiga e tomilho de Jamie Oliver é ótima companhia para a fraldinha
A distância da brasa, sempre citada nos manuais, é na verdade relativa, de acordo com a churrasqueira e o calor que ela é capaz de concentrar. A única verdade é que precisamos de braseiro no auge, coberto com aquela fina manta cinzenta que se mostra à luz do dia.
Comecei a um palmo da brasa, marcando e dourando a peça de ambos os lados. Subi a grelha mais 10 centímetros e assei por cerca de 10 minutos de cada lado.
Quiabo Amigo
Quando a carne saiu para seu breve descanso antes de ser cortada – essa é uma parte importante do bom churrasco -, seus amigos já esperavam nas respectivas tigelas aquecidas: o quiabo e a batata doce grelhados.
Não há melhor maneira de se fazer um quiabo, com a baba caramelizada em sabor, o corpo crocante e as sementes explodindo na boca como caviar (thanks, Sudbrack).
Cortei os verdinhos após deixarem a churrasqueira e temperei com azeite, sal, suco de limão siciliano e suas raspas, salsa e pimenta dedo de moça picadinha. As batatas foram à grelha e ao prato em rodelas.
Corte na Taça
Para beber, ‘descorchamos’ o Clos de los Siete, vinho sedutor que é projeto de Michel Rolland em Tunuyán, no Valle de Uco, em Mendoza. Cerca de 60% de malbec no blend com cabernet sauvignon, merlot, syrah e petit verdot, às vezes cabernet franc.
Diga-se de passagem, é um ótimo custo-benefício no free shop do aeroporto Ezeiza, de Buenos Aires. Compra certa quando passo por lá. Não preciso dizer o quanto essa criança combina com carnes suculentas na brasa.