Um bar chamado Brasil
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Feliz de quem pode na hora do almoço, de vez em quando, escapar ali para a Mem de Sá, e viajar através do biombo de vidro ártico pelos tempos de um outro Rio.
Os garçons com suas gravatinhas borboleta, ventiladores antigos, balcão e geladeira de madeira e uma chopeira centenária, torneada em bronze, que se ergue após a serpentina de 66 metros como um monumento ao chope tirado à moda antiga, tipo três dedos de colarinho.
O dia deixa de repente de correr – e como correm nossos dias, ninguém sabe direito para onde.
Certa vez perguntei ao dono como era feita a salada de batata. E chamem os santos da culinária para ouvir com quantos paus se faz a tradição: batata e maionese Hellmann’s, é assim há mais de 30 anos.
Um salsichão de vitela com salada de batata e uma água com gás, por favor. Ela vem da marca Prata, garrafa de vidro de 500ml, desde 1876, está no rótulo. A mostarda preta é Hemmer, nascida em 1905. Mesmo ano que o inglês Richard Hellmann inventou a tal maionese, que chegou por aqui em 1962.
Na dúvida, peça a travessa que mistura Tiradentes e Berlim: o kassler à mineira, servido de quarta a sábado com tutu e couve (reza a lenda, sugestão de Paulinho da Viola). O bife à milanesa e o rosbife são outros pedidas que valem a pena, o bolo de carne tem seu fã-clube e o ossobuco aperitivo é descoberta.
Com duas entradas, pela Mem de Sá e a Lavradio, o Bar Brasil tem curioso formato em ‘L’, criando esquina no meio do salão pontuado por antigas colunas de sustentação do teto.
Na parede, repare nos quadros do falecido chileno Jorge Selarón, legado do artista vítima da violência que insiste em morar na Lapa.
Na hora de pagar a conta, o garçon faz as contas em pequeno bloco, coça o bolso e tira o troco. Mas não vamos sair assim sem a sobremesa.
A torta de chocolate, afogada em creme na foto abaixo, era uma das melhores da cidade, de origem curiosa.
Era fabricada pela mulher de um borracheiro da região, que certo dia se cansou e nos deixou sem a delícia. Apfelstrudel, portanto.
Às 23h, quando o vulcão da Lapa começa a despertar, o Bar Brasil fecha as portas e repousa, como a guardar época distante em que havia chapéus para se pendurar nas hastes que ainda estão por ali. A ele tiramos o chapéu.
Bar Brasil. Av. Mem de Sá 90, Lapa (2509-5943). De segunda a sábado, das 11h30 à 0h. Aceita todos os cartões de crédito e Visa Vale.